2024
Temas
Palestras
Andrew Samuels
Tema:
A Idade é Apenas um Número: A Ilusão da Maturidade e a Ficção da Individuação
Descrição:
Pessoas em praticamente todas as culturas estão fascinadas pela ideia de ‘idade’. Seja ao considerarmos estudos sobre a infância ou os desafios da velhice, não podemos evitar confrontar esse problema complexo. No entanto, quão confiável é essa dependência? Em minha palestra, irei questionar a dependência tanto da teoria clínica quanto dos comentários culturais sobre muitos aspectos relacionados à idade. Os clínicos tendem a considerar grandes diferenças de idade em relacionamentos como um sinal de psicopatologia. Realmente? Sempre? Além disso, a crença de que na velhice alguém pode alcançar a ‘maturidade’ é realmente questionável, até ilusória. Embora a ideia de ‘individuação’ de Jung não seja exatamente a mesma que a maturidade, ela também enfrenta grandes desafios. Esses desafios estão associados à divisão de Jung da vida em uma primeira metade e uma segunda metade. Essa divisão é, de várias maneiras, uma ficção. Estou planejando desestabilizar as ideias no Ocidente de que existem ‘gerações’: Geração Silenciosa, Baby Boomers, Geração X, Millennials, Geração Z, e assim por diante. É significativo afirmar que ‘no Brasil, 34% da população são Millennials’? Acredito que isso seja um absurdo jornalístico, não digno de séria atenção psicológica profunda. Vamos refletir juntos sobre a ‘juventude eterna’, o que significa deixar de lado os números.
Lucas Vaz de Lima Mattos
Tema:
Esperanças psicodélicas: armadilhas e oportunidades para o processo de transformação
Descrição:
Nos últimos anos, os psicodélicos estão rapidamente ganhando espaço em nossa imaginação. Não só como novas promessas terapêuticas para transtornos mentais, mas também como instrumentos de práticas diversas, que variam da recreação a religião, chegando a se apresentar como possíveis catalisadores de uma transformação social, tão desejada.
Estamos diante de elixires de uma nova era?
Quais dinâmicas arquetípicas acompanham a nossa relação com esses fantásticos elementos?
A partir de um enfoque histórico sobre a temática dos psicodélicos, buscamos aproximações através de perspectivas da psicologia analítica, a fim de compartilhar reflexões clínicas e sociais sobre o tema, em sintonia com propostas de redução de danos (e potencialização de benefícios) sobre o uso de substâncias psicoativas.
Renato Noguera
Tema:
Crises da civilização: o poder do medo e a potência contracolonial
Descrição:
O que são projetos civilizatórios cosmofóbicos e cosmofilicos? Como a cosmivisão euro-cristã se relaciona com a visão de mundo afro-pindorâmica? Por que o medo é um afeto estruturante do projeto civilizatório ocidental?a partir de uma leitura do pensamento filosófico quilombista de Antonio Bispo dos Santos, vamos debater os eixos civilizatórios com bases na cosmofobia e na cosmofiilia e conjecturar sobre o papel dos arranjos contracolonias para uma confluência ética biofílica que se opõe à moral colonial.
George Taxidis
Tema:
Projeções Mútuas e Ilusões de Vitimização
Descrição:
Em seu discurso na conferência do Partido Conservador em setembro de 2023, o Primeiro-Ministro do Reino Unido declarou que “um homem é um homem, e uma mulher é uma mulher” e que se recusa a ser “intimidado” a pensar de outra forma. Em minha palestra, tentarei expor os processos que permitem ao líder de um dos países mais ricos do mundo afirmar que é vítima de intimidação pela comunidade trans – uma minoria que enfrentou um aumento de 186% nos crimes de ódio contra ela nos últimos cinco anos. Gostaria de explorar uma mudança na retórica sobre ‘liberdade de expressão’ e vitimização que inverte a realidade das relações de poder.
A psicologia junguiana conceitua os relacionamentos como sempre sendo compostos por projeções mútuas: um homem masculino projeta sua feminilidade inconsciente nas mulheres, e uma mulher feminina projeta sua masculinidade nos homens; no início da análise, um paciente projeta seu curador interior em seu terapeuta, e ela, por sua vez, também projeta sua vulnerabilidade em seu paciente. Como podemos complexificar esse modelo para não perder de vista as experiências de opressão e desequilíbrios de poder? E é possível também manter em mente uma compreensão das relações de poder que vai além das simples noções de opressor e oprimido?
Santina Rodrigues
Tema:
Desamparo, desalento, depressão: reimaginar a individuação pela via negativa.
Descrição:
Em tempos de individualização maciça da existência e regressão narcísica do eu, como re-imaginar a individuação por uma via negativa?
Susan Schwartz
Tema:
O Espelho Ilusório – A Sombra da Personalidade ‘Como Se’
Descrição:
A personalidade “como se” sinaliza a superficialidade e a ausência emocional típica da atual era do narcisismo.
As convulsões sociais, a guerra e a pobreza trazem a precariedade da vida para os nossos consultórios analíticos.
As forças para desmascarar obrigam a examinar o autoengano, o comportamento ficcional e o doloroso isolamento que assombram esse tipo de personalidade.
As imagens do ego/persona, a auto-absorção, o encantamento com a juventude perpetuam a vida em mundos de fantasia de videogames, pornografia online e mídias sociais.
Todos exacerbam as carências na psique e as defesas contra a realidade, contra si mesmo e contra os outros.
Com aptidão para a mímica, a pessoa “como se” observa o mundo, mas permanece indiferente enquanto uma tristeza solitária toma conta e priva a pessoa da alegria e da permissão para ser real.
O narcisismo da nossa era inclui a impenetrabilidade, a fragmentação e a evitação de si mesmo e dos outros, muitas vezes sem consciência.
A pessoa “como se” precisa de imagem pessoal e adoração, enquanto o problema é a perda de autoconexão.
Jung não discutiu diretamente o narcisismo, mas reconheceu que a ênfase excessiva no ego e na persona significava negar a sombra com efeitos adversos. Jung declarou em 1954 que o desenvolvimento equivocado da alma leva à destruição psíquica em massa.
Portanto, o processo junguiano de individuação reflete os desafios da nossa era para a conexão consigo mesmo e com os outros.
Mesas
Carmen Parise, Daniel Yago e Adilon Harley
Tema:
100 anos de monogamia e o amor vai de mal a pior: O retorno de Eros a comunidade
Descrição:
É fato que a monogamia pode ser observada em diversos momentos da história ocidental. Mas é na Modernidade que ela mesma se torna um paradigma relacional, ou até mesmo um complexo cultural, que condena afetos e expressões ao destino de um único relacionamento e que reduz diferentes expressões de amor ao modelo do casamento heterossexual.
Pretendemos mostrar nesta mesa o contexto sócio-político-religioso que estabeleceu a monogamia como imagem central para o amor, o casamento e o sexo e, principalmente, que inventou a família nuclear heterocentrada como principal objeto de controle da vida social. Para tanto, voltaremos à formação da família burguesa, na transição entre feudalismo/capitalismo, ao surgimento das cidades e demarcações de terras. Mostraremos como o cercamento de terras cerceou também nossas subjetividades e nos arrancou da vida comunitária em direção a uma vida cada vez mais individualista. Nesse contexto, a família e, principalmente, o casal, tornaram-se o centro de nossa vida compartilhada.
O resultado disso é uma divisão de papéis desigual entre homens e mulheres no tocante às tarefas domésticas e circulação na pólis, o que vai contaminando o amor com tintas de abuso e sobrecarga dos parceiros; bem como expectativas enormes e decepções maiores ainda em torno de nossos parceiros. Pretendemos refletir se somos nós quem estamos falhando individualmente ou se esse arranjo a que estamos submetidos não foi mesmo feito para falhar. Se desmontássemos os lugares destinados ao homem e à mulher, se pensarmos em outras possibilidades de expressão de gênero que não essa fixa e binária, se pudéssemos deslocar nossos investimentos e expectativas do casal e da família em direção a uma comunidade mais ampla, que mundo estaríamos construindo? Quem seríamos nós? Como amaríamos e desejaríamos?
George Taxidis, Julia Kaddis e Gustavo Pessoa
Tema:
Amor e Fúria por Jung
Descrição:
Uma reflexão sobre nossos relacionamentos com Jung, como indivíduos do século XXI (acadêmicos, estudantes e/ou clínicos) que podem ser queer, trans, da classe trabalhadora, mulheres ou pessoas de cor. O que nos leva a dedicar tempo e energia ao estudo de sua obra? O que nos permite perseverar, apesar da linguagem muitas vezes complicada ou das declarações dele que negam nosso valor e nossos caminhos de individuação únicos? O que faz com que outros em nossas comunidades junguianas ignorem ou minimizem a importância dessas declarações e da dor que podem causar? Como podemos nos relacionar com a comunidade junguiana diante dessas áreas problemáticas – como aprendemos com os mais velhos e como abordamos o problema de ensiná-los? Gostaria de explorar quais podem ser os benefícios e perigos de um relacionamento com uma figura como Jung, caracterizado por devoção, amor, fé, bem como ceticismo, decepção e raiva.
Panel talk (with Julia and Gustavo)
Rangel Fabrete, Jorge Zacharias e Alex Rocha
Tema:
Complexo do Desempenho
Descrição:
Na sociedade contemporânea, nota-se que o indivíduo se volta contra si próprio em termos de busca por performance, metas e um melhor desempenho, em distintas áreas da vida.
Se por um lado a busca por sucesso, e melhorias de vida, se mostram como algo positivo, a exaustão, o Burnout, a depressão, também se mostram presentes.
Jorge Miklos, Malena Contrera e Ana Maria Rios
Tema:
A crise do sentido na sociedade midiática.
Descrição:
Uma reflexão sobre como as transformações no estilo de vida trazidas pela sociedade tecnológica e midiática impactaram de forma radical a vida psíquica.
Como um dos sintomas básicos desse fenômeno temos um certo estado de desencantamento, vazio simbólico, pano de fundo das solidões e de várias formas de sofrimento psíquico.
Mauricio Santos, Amnéris Maroni e Yedda Macdonald
Tema:
Pensar-agir junguiano no Antropoceno: refúgios, resistências, transformações
Descrição:
Como os pensamentos junguiano e pós-junguiano, enquanto propostas psicológicas clínicas e coletivas, podem ajudar nos esforços contemporâneos da arte, ciência e filosofia, para dar uma resposta à crise ambiental do que se convencionou chamar de antropoceno?
Se o antropoceno trata do impacto humano no planeta colocando a vida das espécies, incluindo a sua própria, em risco, não há como não buscar, da perspectiva da psique, origens, consequências, refúgios e saídas para esta crise.
O pensamento de Jung desde sempre esteve aberto às forças autônomas da natureza, desde sempre valorizou, ainda que com os cuidados de quem fazia ciência psicológica nos inícios do século XX, as expressões culturais animistas, vitalistas, alquímicas, interessando-se por pensamentos não convencionais como manifestações legítimas da psique, assim como pelas inovações científicas de sua época, colocando-as em diálogo.
A aposta aqui, então, será nas conexões do pensamento junguiano com outras e outros pensamentos contemporâneos que partem deste tempo e desta crise para que seu encontro e sua conexão possam potencializar a ambos, não por diletantismo teórico ou estético, mas porque a crise ambiental em todas as suas faces e manifestações exige olhares e práticas transversais de compreensão, cuidado e transformação.
André Dantas, Marcus Quintaes e Patricia Eugenio
Tema:
Medicalização da vida cotidiana: o que nos dizem as imagens dos afetos deprimidos e dos estados bipolares?
Descrição:
A Aventura Empreendedora e a Sombra Depressiva:
A batalha pelo reconhecimento profissional exige casa vez mais resistência e velocidade. Competir não é o bastante, é preciso superar os limites para deixar os concorrentes para trás e subir no pódio. Com o aumento da competição desenfreada, o pensamento positivo deixa de funcionar sem o suplemento químico que coloque os neurônios em sintonia com ele, de modo que o empreendedor-esportista precisa de coaching para estimular o software e drogas para estimular o hardware. No esporte da aventura empreendedora, onde o reconhecimento pessoal está intimamente ligado ao reconhecimento profissional, ficar para traz pode ser fatal para a autoestima dos concorrentes e assim os psicotrópicos se tornaram dopings cotidianos. O humor eufórico, as ideias aceleradas, e a atividade desenfreada típicas da mania se tornaram o ideal do ego hipermoderno. E uma sociedade que cultua a competitividade, a euforia, o exibicionismo, a juventude e a velocidade varre para debaixo do tapete o abatimento e a lentidão que a contradiz. A tristeza é insuportável para uma cultura que agrega a euforia aos bens ofertados e para qual a saúde e a alegria passaram de direitos à imperativos categóricos: “Tens o dever de ser alegre e saudável a qualquer preço, nem que para isso tenhas que fingir até para ti mesmo”. Se a histeria era o sintoma de uma sociedade repressiva, hoje a depressão é o sintoma de uma sociedade da performance espetacular.
Claudia Gadotti, Marilena Damasco e Santina Rodrigues
Tema:
Os paradoxos da mulher na contemporaneidade : feminismo e relações amorosas
Descrição:
A proposta dessa mesa será de refletir sobre qual o significado do feminismo na vida contemporânea e quais as interfaces com a questão da dependência afetiva nos relacionamentos amorosos. Precisamos entender o movimento feminista de uma forma mais ampla e redimensionar sua expressão, especialmente em um momento onde os conceitos básicos de feminino e masculino estão sendo revistos. No campo dos relacionamentos amorosos novos modelos emergem e convivem com outros regidos ainda pelo amor romântico. A reflexão será no sentido de encontrar um significado da dependência afetiva do ponto de vista sociocultural e das manifestações psiquicas.
Renato Noguera, Bruno Mota e Paulo Resende
Tema:
Crítica da Razão Negra e Branquitude: um mundo pós-racial é possível?
Descrição:
Em que consiste o pacto narcísico da branquitude? Por que as tensões raciais também desumanizam pessoas brancas? Como o enfrentamento da violência racial pode ser uma alternativa para toda a sociedade? De modo panorâmico a partir dos estudos de Achille Mbembe, Frantz Fanon, Grada Kilomba, Carlos Moore e Cida Bento vamos dialogar sobre racismo, narcisismo, branquitude e ligeiramente enfrentar o debate dos elementos de um mundo pós-racial.